5º Capítulo
Shenzhen e Ningbo, Terça-feira, 15 de março de 2005
Trrrrrrrrriiiiiiiiiiiiiiimmmmmmmmm.
“Tou sim?”.
“Então, pá. Já estás deitado? Tão cedo?”
Pois… Esqueci-me de tirar o som ao
telemóvel e em Shenzhen o fuso horário é ligeiramente diferente.
Ligeiramente. É só sete horas.
Pequeno almoço. O Master Club Hotel era um hotel para
chineses, sem quaisquer pretensões de atingir uma clientela internacional. Tudo
estava feito para o modo de vida chinês. Não tinham pequeno-almoço que me
cheirasse, o que me levava para a rua à procura de bancas com pãezinhos cozidos
no vapor, crepes ou fruta. Nem sequer a ementa era legível. Por mais que tentasse descortinar um cafezito com uma
torradita amanteigada ou uns escanzelados ovos mexidos, nada. Ali era mesmo
apenas e só para a fauna local. Nem sei mesmo qual é o pequeno almoço dos
chineses, já que tudo me cheirava ao mesmo e com cores e molhos esquisitos. Nem
sequer tentei a aproximação, já que o aspeto mandou-me embora de imediato.
Depois de levantar cedo, fazer o “Check-Out”
(Check-Out sim, porque estou muito inglesado) pedi à recepcionista, nem sei bem
como, para me chamar a gerente, pois queria que o bilhete de avião fosse
marcado por alguém que eu percebesse e fosse percebido. Muito solícita, lá
apareceu a gerente que tratou tudo ao telefone com alguém do outro lado da
linha.
É impressionante o desembaraço e a rapidez com que
este povo faz tudo. São peritos em fazer depressa, de imediato, é para já. As
coisas resolvem-se na hora sem demoras nem desculpas. Estão formatados para a
sequência lógica de não fazer esperar nem atrasar.
Tudo bem, 1210 RMB (cash) do lado de lá, 1 hora à
espera e bilhete do lado de cá.
O hotel não estava feito para ocidentais. Tudo estava
feito e montado para os locais em viagem, coisa que me agradou, já que uma
limitações das viagens é irmos para hotéis globalizados e normalizados para
ocidentais, onde tudo é montado num modelo standarizado e igual em todo o lado,
como um hambúrguer MacDonalds. A vantagem de ter ido pousar neste
despretensioso hotel foi o de conhecer as vivências locais, o acolhimento
local, as particularidades locais e um hotel sem cenário para estrangeiros.
Táxi para o aeroporto de Shenzhen, onde iria apanhar o
avião para Ningbo, 1000 km a norte, na província de Zhejiang.
Mais uma vez tive a certeza absoluta que os motoristas de táxi na China é uma
raça à parte, primos dos malabaristas de circo que fazem coisas espantosas e
originais. Após o motorista do táxi ter
posto 30 vezes a minha vida e a dele em risco, lá chegamos ao aeroporto,
onde era suposto embarcar às 11.30 e só embarquei às 15.00, por questões não
esclarecidas.
No novíssimo aeroporto de Shenzhen deu direito a
máquina raio x, revista à mala de mão, abrir a garrafa de água e
cheirar (à data era permitido ainda levar líquidos em garrafas), revista
com detetor de metais tipo pórtico e também manual, depois de me terem posto em
cima de um tamborete preparado para o efeito, onde a malta suspeita é colocada
a jeito de ser examinado à lupa à frente do resto da populaça que vai seguir
para os seus destinos. Parecia quase um número de circo onde focas ou
elefantes sobem para cima dos adereços do
circo. Braços abertos e todo apalpado até aos t0W@7€$. Viagem muito boa sem
qualquer problema numa companhia chinesa top.
Chegado a Ningbo, a mesma revienga aos taxistas, nunca
aceitar os que se oferecem. Lá segui direitinho ao hotel previsto sem qualquer
sobressalto, exceto a condução tipo circo nas caóticas ruas de Ningbo onde,
mais uma vez e no lugar do pendura, travei mais do que o motorista..
“No Loom, Solly”. Olha o cabrão, nem olhou para mim.
Dirigi-me ao hotel em frente. A mesma treta: “No Loom, Solly”. Fui à pasta
“hotéis Ningbo” e népia. Não tinha previsto esta situação. Os hotéis estavam
cheios.
Já quase de noite, estava na rua sem hotel numa cidade
enorme e sem conhecer ninguém.
E agora?
Continua…
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