11º Capítulo
Guangzhou, Sexta-feira, 18 de março de 2005 (2ª parte)
Guangzhou convida a andar a pé pelas ruas apesar de
ser uma cidade com os passeios completamente cheios de gente. Para qualquer
lado que siga, permanente e constantemente a cidade fervilha de pessoas. Os
mercados são, na minha opinião, o centro nevrálgico de qualquer local a visitar.
É nos mercados que tomamos realmente conhecimento e noção da realidade local.
Na maior parte destes mercados conseguimos descortinar a verdadeira essência da
vivência dos locais, sem máscaras nem cenários para turista.
Os mercados de vegetais são dos mais completos que
alguma vez vi. É impressionante a forma como os preparam, chegando a ser duma
meticulosidade impressionante a forma como embalam e organizam os verdejantes
molhos. Uma variadíssima gama de vegetais compõe a dieta chinesa no dia-a-dia
duma população perita em confecionar legumes de toda a maneira e feitio, com
especial ênfase para os caldos e cozidos ao vapor nas panelas de bambu. Fiquei
tão sensibilizado com esta particular forma de cozinhar que, desde 2005, adotei
a cozinha a vapor em panela de bambu dentro dum recipiente com água a ferver. Deixei,
praticamente, de cozinhar em água fervente. Também numa simples panela comum com
dois dedos de água é possível cozinhar a vapor com um utensílio que abre tipo
pétala, cozendo os alimentos pelo vapor e de forma menos intrusiva, mantendo a
sua textura e formato.
No que toca a peixe e mariscos, estes são
comercializados vivos, mantidos em tanques oxigenados por centenas de metros de
tubo ligados a pequenos compressores que não se cansam de deitar bolhinhas para
manter a água em boas condições e fornecer oxigénio aos vivíssimos peixes
e mariscos residentes nestes numerosos aquários. Que me tenha apercebido, não
existem peixes mortos para venda, como numa qualquer peixaria por esse mundo
fora. Na China fazem questão, nem sei bem o porque desta exigência, de manter
os peixes vivos até serem mortos e cozinhados.
Após ter feito a entrada no hotel era imperioso fazer
um reconhecimento à zona envolvente.
Guangzhou é
a capital da província de Guangdong, ou Cantão, no sul da China. É uma cidade
com cerca de 15 milhões de habitantes, atualmente. Sendo uma das cidades com
elevado índice de crescimento, necessita de um constante fluxo de mão-de-obra
oriundo de zonas mais desfavorecidas, como as províncias do interior. Está a
rebentar pelas costuras. Quando se realiza a tradicional Canton Fair, uma das
feiras internacionais mais conhecidas em todo o mundo, os hotéis esgotam nessa
altura do ano (normalmente Abril). As reservas são feitas com um ano de
antecedência e os preços são proibitivos, tal o afluxo de estrangeiros e
nacionais à Canton Fair.
Já estava quase curado da dependência “barbeiro”, mas
recaí, só que em vez de cortar, optei pela lavagem e massagem. Espetacular!!!
Estes dias muito movimentados cansam. Após o jantar
numa tasca onde pedi algo pela foto da ementa, tive direito a um arrozito
pintalgado com vegetais e mais uns acepipes saborosos. Barriga cheia e rua, à
procura de café. No Mc Donalds levo com a água choca. No KFC idem, idem. Será
que estes gajos não têm Starbucks? Bem que procurei, mas nada.
Habituei-me a andar depois das refeições, por duas
razões: Conhecer o local e ajudar e “desmoer” as excelentes refeições que tenho
conseguido encontrar nesta China com tremendos contrastes entre o velho e o
novo. É comum encontrar um bairro operário, tipo cápsula do tempo Mao Tsé-Tung,
no meio de prédios com 30 ou 40 andares, supernovos no topo da modernidade.
Estes bairros, com construções rudimentares e humildes, estão condenados ao
desaparecimento para dar lugar à cosmopolita China capitalista e endinheirada.
Estes bairros de humildes operários, onde algumas pessoas ainda se lavam na rua
em alguidares de plástico, darão lugar a
centros comerciais pejados de produtos e serviços apelativos para a nova faixa
de jovens consumidores inebriados pelas fabricadas modas made in Tik-Tok e
afins. 15 milhões de almas a sobreviverem amontoados num espaço completamente
sobrelotado.
Regressei ao hotel e optei por beber um
expresso à maneira do funcionário do bar. Já estou por tudo. O que vier, morre.
Coração ao largo. Mas este hotel é mesmo bom. Para além do barman me entender,
percebeu também o que eu queria e, dentro das possibilidades, lá bebi um
“cariocazito” antes de regressar ao quarto.
Mas ainda não foi desta que repus os meus níveis
cafeínicos. Café precisa-se.
Foi deitar e …
Zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz.
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