segunda-feira, 25 de março de 2024

11º Capítulo - Sexta-feira, 18 de março de 2005 (2ª parte)






11º Capítulo 

Guangzhou, Sexta-feira, 18 de março de 2005 (2ª parte)

Guangzhou convida a andar a pé pelas ruas apesar de ser uma cidade com os passeios completamente cheios de gente. Para qualquer lado que siga, permanente e constantemente a cidade fervilha de pessoas. Os mercados são, na minha opinião, o centro nevrálgico de qualquer local a visitar. É nos mercados que tomamos realmente conhecimento e noção da realidade local. Na maior parte destes mercados conseguimos descortinar a verdadeira essência da vivência dos locais, sem máscaras nem cenários para turista.  

Os mercados de vegetais são dos mais completos que alguma vez vi. É impressionante a forma como os preparam, chegando a ser duma meticulosidade impressionante a forma como embalam e organizam os verdejantes molhos. Uma variadíssima gama de vegetais compõe a dieta chinesa no dia-a-dia duma população perita em confecionar legumes de toda a maneira e feitio, com especial ênfase para os caldos e cozidos ao vapor nas panelas de bambu. Fiquei tão sensibilizado com esta particular forma de cozinhar que, desde 2005, adotei a cozinha a vapor em panela de bambu dentro dum recipiente com água a ferver. Deixei, praticamente, de cozinhar em água fervente. Também numa simples panela comum com dois dedos de água é possível cozinhar a vapor com um utensílio que abre tipo pétala, cozendo os alimentos pelo vapor e de forma menos intrusiva, mantendo a sua textura e formato.

No que toca a peixe e mariscos, estes são comercializados vivos, mantidos em tanques oxigenados por centenas de metros de tubo ligados a pequenos compressores que não se cansam de deitar bolhinhas para manter a água em boas condições e fornecer oxigénio aos vivíssimos peixes e mariscos residentes nestes numerosos aquários. Que me tenha apercebido, não existem peixes mortos para venda, como numa qualquer peixaria por esse mundo fora. Na China fazem questão, nem sei bem o porque desta exigência, de manter os peixes vivos até serem mortos e cozinhados.

Após ter feito a entrada no hotel era imperioso fazer um reconhecimento à zona envolvente.

Guangzhou é a capital da província de Guangdong, ou Cantão, no sul da China. É uma cidade com cerca de 15 milhões de habitantes, atualmente. Sendo uma das cidades com elevado índice de crescimento, necessita de um constante fluxo de mão-de-obra oriundo de zonas mais desfavorecidas, como as províncias do interior. Está a rebentar pelas costuras. Quando se realiza a tradicional Canton Fair, uma das feiras internacionais mais conhecidas em todo o mundo, os hotéis esgotam nessa altura do ano (normalmente Abril). As reservas são feitas com um ano de antecedência e os preços são proibitivos, tal o afluxo de estrangeiros e nacionais à Canton Fair.

Já estava quase curado da dependência “barbeiro”, mas recaí, só que em vez de cortar, optei pela lavagem e massagem. Espetacular!!!

Estes dias muito movimentados cansam. Após o jantar numa tasca onde pedi algo pela foto da ementa, tive direito a um arrozito pintalgado com vegetais e mais uns acepipes saborosos. Barriga cheia e rua, à procura de café. No Mc Donalds levo com a água choca. No KFC idem, idem. Será que estes gajos não têm Starbucks? Bem que procurei, mas nada.

Habituei-me a andar depois das refeições, por duas razões: Conhecer o local e ajudar e “desmoer” as excelentes refeições que tenho conseguido encontrar nesta China com tremendos contrastes entre o velho e o novo. É comum encontrar um bairro operário, tipo cápsula do tempo Mao Tsé-Tung, no meio de prédios com 30 ou 40 andares, supernovos no topo da modernidade. Estes bairros, com construções rudimentares e humildes, estão condenados ao desaparecimento para dar lugar à cosmopolita China capitalista e endinheirada. Estes bairros de humildes operários, onde algumas pessoas ainda se lavam na rua em alguidares  de plástico, darão lugar a centros comerciais pejados de produtos e serviços apelativos para a nova faixa de jovens consumidores inebriados pelas fabricadas modas made in Tik-Tok e afins. 15 milhões de almas a sobreviverem amontoados num espaço completamente sobrelotado.  

Regressei ao hotel e optei por beber um expresso à maneira do funcionário do bar. Já estou por tudo. O que vier, morre. Coração ao largo. Mas este hotel é mesmo bom. Para além do barman me entender, percebeu também o que eu queria e, dentro das possibilidades, lá bebi um “cariocazito” antes de regressar ao quarto.

Mas ainda não foi desta que repus os meus níveis cafeínicos. Café precisa-se.

Foi deitar e …

Zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz.

 

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