quinta-feira, 21 de março de 2024

8º Capítulo - quarta-feira, 16 de março de 2005 (2ª parte)




8º Capítulo

Ningbo, quarta-feira, 16 de março de 2005 (2ª parte)

Evitam o acidente a todo o custo, à custa da buzina e de uma condução que não alcança o que está imediatamente à sua frente, lendo o trânsito duma forma diferente. Ou seja, este mesmo percurso demorou 2 a 3 horas e com constantes raviengas e habilidades pelo caminho.

Curioso, que apesar desta balbúrdia toda, não vi nenhum acidente, só um toque numa bicicleta que se atravessou à frente de repente, tendo só visto a vítima a levantar-se com uma rapidez fora do normal e a esfregar a perna dorida.

Um mundo de mobiliário chinês. Já conhecia o “metier” das fábricas de móveis em Portugal. Cheiram todas ao mesmo e têm todas o mesmo aspeto, a mesma configuração e propósito. Surpresa das surpresas: Na China é igual. O barulho, o cheiro, os armazéns a abarrotar, os marceneiros, os miúdos a ajudar (embora em Portugal já fosse raro). O tipo de mobiliário teria aceitação em qualquer loja da especialidade como produto muito interessante. A variedade, os modelos, o preço, o aspeto, a novidade.

De volta a Ningbo, Joanna Zhu convidou-me para jantar, juntamente com o seu motorista. Acedi. Estava com uma fome de lobo. Tinha tomado o pequeno-almoço do hotel às 8.00, onde enchi o bandulho com o equivalente a dois ou três, já que estava a prever fomeca ao longo do dia e a coisa estava a cair bem. O entusiasmo das visitas às fábricas, associado ao facto de fazermos muitos quilómetros, fez com que passássemos o almoço em branco sem tempo para pararmos.

Fomos jantar a um restaurante espetacular com 9000 m2, 200 cozinheiros, 300 auxiliares de mesa, 4 pisos, 500 m2 de montra com peixe vivo, vegetais, mariscos e uma panóplia de produtos para confecionar. Tudo é confecionado na hora por um cozinheiro que está só a cozinhar os produtos por nós escolhidos. É uma comida espetacular que não tem nada a ver com a cozinha chinesa que se come em Portugal e na Europa em geral, onde a ementa é ocidentalizada de forma a ser mais facilmente adaptada ao palato europeu. Um manjar digno de reis, acompanhado com chá verde. Conta paga pela Joanna. 180 rmb (18€), nem mais. Em Portugal teria sido 5 ou 6 vezes esta importância. Restaurante chinês que se preze não tem café. Só chá.

Chá verde. Todos os restaurantes em que entrei tinham como “entrada” chá verde na mesa. Sempre. Cá em Portugal temos pão, azeitonas, manteiga, etc. O equivalente na China é o chá verde, que me tenha apercebido. Bebem-se hectolitros daquela aguadilha amarelada antes de vir a comida. Será para preparar o organismo. Para “ganhar cama” para a comida?

Nesta altura já tinha assentado arraiais num novo hotel indicado pela Joana Zhu, por metade do preço do outro e com as mesmas ou melhores condições. Depois de “tirar o azimute” ao hotel e ter pedido cinco cartões e espalhá-los pelos bolsos da roupa, decidi aventurar-me à procura dum sítio para beber um café expresso, para além de ir conhecer a cidade de Ningbo . Centros comerciais e mais centros comerciais pejados de telemóveis, relógios e demais tecnologia a montes. A China é uma sociedade altamente consumista e modernizada, onde todo este novo brilho contrasta com uma profunda pobreza numa população mais desfavorecida e antiquada, presente em subúrbios enlameados pejados de gente andrajosa coberta de trapos encardidos. Mas café, zero.

De volta ao dito hotel, tinha sondado o bar e tentado perceber se tinham café. Ah, desta é que vai um cafezinho à maneira. Pedi um Black Coffee, sem fazer especial ênfase no Coffee, não fosse a rapariga se lembrar do “Caffee”, o tal galão chinês. Resultou. Ela percebeu, “no milk”, “nice”, “half cup, litle”. “Good, good!!!” Espectáculo! Esta, sim. Está habituada, conhece os europeus, “sabe da poda”. Este hotel, sim. Estes funcionários já estão quase mestres a tirar cafés para europeus carentes de cafeína e desejosos do perfume torrado. O creme perfumado do café a subir ao céu da boca em perfeita harmonia com as o seu aroma adocicado. Na minha memória olfativa originada pela vertigem aromática, via-me, quase 30 anos antes, na principal rua de Sintra a cheirar o aromático vapor da torrefação do Supermercado Baetas que, às quatro da tarde em ponto, inundava-me o cérebro, a rua Heliodoro Salgado e toda a zona da Estefânea.

Foi o meu azar. Baixei a guarda e quando dou pela coisa estou a levar com um abatanado com uma espuma branquinha que metia dó, tipo carioca triplo. Não dei parte de fraco e agradeci, para além de pagar 35 rmb (3,5€, toma que já almoçaste). Apesar de todo o entusiasmo causado pela constante “caça ao tesouro” que estava a viver na República Popular da China, precisava desesperadamente de cama, que o dia tinha sido muito longo.

Pela 2ª ou 3ª vez esqueci-me de colocar o telefone no silêncio. TTrrrrrrrriiiiiiiiiiiimmmmm.

Pw7@ que o p@7iw!!!! Às 3 da manhã, “TOU?” “Epá, tás a dormir ou quê? Às 8 horas da tarde?” Pois... Ainda a sofrer do Jet Lag, pregar olho foi uma tarefa árdua.

 

Zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz…………………………………..

 

Continua…


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