18º Capítulo
Hong-Kong, Quinta-feira, 24 de março de 2005
Quero ir a
Macau. Para além de ouvir falar muito deste território, as ligações à cultura
lusa deixam-me nostálgico e saudosista. A 10.000 quilómetros de casa todas as semelhanças
com a minha chaminé são bem-vindas. A esta distância de casa seria bom passear
na Rua Cidade de Sintra, freguesia da Sé, em Macau.
Está-me a
passar a “pica” de levantar cedo, até porque tenho a companhia do Fernando
Mendes, da Serenela Andrade, do José Rodrigues dos Santos e restante staff da
RTP Internacional. Após um “very british breakfast” no hotel “very british que
não me lembro o nome”, pergunto na recepção como apanhar o ferry para Macau.
Por via das dúvidas e para não andar com um porta-documentos muito volumoso ao
pescoço por dentro da roupa, opto por não andar com o Passaporte. Deixo-o no
pequeno cofre do quarto.
Por
questões de segurança levei dois cartões multibanco de débito, de duas contas
distintas, caso um deles falhasse poder-me-ia socorrer do outro. Com medo de
possíveis assaltos, deixava um deles no quarto e andava com o outro. Fazia
levantamentos regulares para pagamento das despesas de hotel e demais
necessidades com o cartão que andava comigo. Em Hong Kong tinha cofre. Nos
outros hotéis da China continental não. Tive que arranjar um esconderijo seguro
e difícil de encontrar (no meu entender). No primeiro hotel da China, o Master
Club em Shenzhen, dei volta ao
alojamento e surgiam-me sempre os esconderijos típicos onde todos os possíveis
ladrões iriam ver em primeiro lugar. Estava na fase do choque inicial da
entrada na China. Tudo me parecia medonho. Então descobri que as cortinas
tinham bainha suficientemente alta para caber lá o cartão, já que deixá-lo na
pasta ou mala poderia ser menos bom em caso de assalto. Foi só descoser um
pouco e já está. Teria que ser um ladrão com muita imaginação para dar com o
cartão. Seria um embrulho tremendo se não conseguisse levantar dinheiro nos
ATM’s locais.
À data
existiam, e julgo que ainda existem, uns eléctricos semelhantes aos nossos
eléctricos lisboetas, mas na linha dos típicos autocarros londrinos de dois
andares. Nas calmas, fui andando até Henessy Road e aí apanhar um desses
eléctricos que fosse para os lados do porto de embarque do “ferry” para Macau. Assim
foi. Depois de algum tempo em viagem e filas de espera para adquirir o bilhete,
é-me exigido o passaporte. Não deu para embarcar. Também poupei 50€, que seria
o custo do bilhete. Decidi inspeccionar a zona do cais dos “ferrys” e eis que,
surpresa das surpresas, dou de caras com uma versão própria da bandeira
portuguesa. (foto) O consolo encontrar um elo comum a milhões de pessoas onde
me incluo, a 10.000km de casa onde ver esta bandeira dá-nos a sensação pertencer
a algo, de ter uma origem, uma cultura, algo em comum com muitas outras
pessoas. A 10.000Km de casa, vendo esta bandeira, deixamos de estar sós. Como
com facilidade me assomam as humidades aos olhos, tive aí e nessa hora mais uma
oportunidade que não desperdicei. De regresso à zona do hotel, decidi fazer o
percurso a pé, já que tempo é coisa que tenho em abundância. Nessa zona
específica, tentei encontrar forma de caminhar nos passeios, sem sucesso.
Verdadeiramente estranho. Não existem passeios. Todos os espaços destinados a
peões encontram-se acima da rua em plataformas cobertas exclusivamente para tráfego
pedonal. Isto durante largos quilómetros dentro de Hong Kong. De surpresa em
surpresa, lá fui regressando. Meti por vielas e ruas numa zona mais antiga. É
fácil vermos uma camioneta a descarregar pranchas para uma carpintaria no 5º
andar de um prédio. A coisa mais normal do mundo é fábricas e fabriquetas
ocuparem um prédio de 30 andares. Hong Kong tem um crescimento na vertical.
Verdadeiramente estranho. Os andaimes dos prédios em construção são em bambu.
Sim, a cana. Bambu. Imaginem um emaranhado de canas de bambu com 30 ou 40
andares, atados com cordéis de sisal e sabe-se lá mais o quê. Os trabalhadores
movimentam-se nestas plataformas de bambu como se estivesse no solo, com uma
agilidade de fazer inveja a um macaco.
Vou tentar
novamente o café no Starbucks, perto do hotel. Ainda não repus os meus níveis
de cafeína, pelo que tudo o que seja preto acastanhado, com ou sem espuma, com
ou sem aroma, em porcelana, papel ou plástico, cheio ou meio cheio, marcha. A funcionária
já não era a mesma. Viam-se alguns ocidentais a beber café com leite nos
típicos copos altos com tampa curva de plástico. Grupos de adolescentes a
cobiçarem os bolos. “Habitués” na leitura da hora de almoço. Turistas
tresmalhados como eu. Que caldeirão. Enfim, peito cheio e … “One expresso, half
cup, single, very hot” disse eu á menina que me atendeu no pré-pagamento.
Gritou 咖啡杯玛雅,非常热,不加奶。para uma outra
que estava na máquina de café e eu, atentíssimo, a seguir todos os movimentos
como se de alguma coisa valesse, fiscalizava as operações que nem um capataz.
-“在这里它是!”Disse a
moça.
- Hammmm!!!???
respondi eu.
- 要牛奶吗?perguntou ela.
Fiz uma cara de interrogado e encolhi os
ombros. Sem me dar tempo para pestanejar e com uma destreza brutal, vai de atestar
com leite. Aaaaaaiiiiiiiiiiiii!!!!!!! Já está. Mais um balde. Peguei no café e
pus-me a andar para a mesa a resmungar comigo próprio. Ainda não foi desta. Vou
dormir a sesta.
Zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz………………..
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