quarta-feira, 20 de março de 2024

7º Capítulo - quarta-feira, 16 de março de 2005

7º Capítulo

Ningbo, quarta-feira, 16 de março de 2005

Como sempre, a expetativa da descoberta diária não me deixava pregar olho de manhã, apesar de ainda sentir a presença do jet lag. Ningbo acordou cinzento, como a maior parte das cidades chinesas híper poluídas e não convida a sair em passeio a pé na descoberta da cidade.

Tomei o pequeno almoço no hotel, este sim já com o standard internacional, usado e abusado em ovos, bacon, feijão, pão, fruta e fritos. 90 euros pela estadia têm que proporcionar algum conforto extra.

Nesse mesmo dia estava prevista uma viagem a Cixi, ligeiramente a Norte, a meio caminho de Shangai. 250 RMB para 120 Km num audi novinho, branco, dando ares de novo-riquismo. É a “cara chapada” da China do século XXl. Montes de sinais exteriores de riqueza onde a ostentação é uma palavra de ordem. Dinheiro, dinheiro e mais dinheiro. A passagem do oito ao oitenta degenerou num novo-riquismo ofuscante e ostensivo, onde tudo brilha a imitar ouro ou diamantes. Os pobres, para parecerem ricos, usam e abusam de produtos contrafeitos e os ricos fazem questão de apresentar o original da marca, salientando essa diferença afirmando que se trata de produto genuíno. Mostrar capacidade financeira acima da média, mesmo sem “ter onde cair morto”, e ostentar sinais exteriores de riqueza é moda em alta na China, da mesma forma que calças à boca de sino o foram no seu tempo.

Nesta altura do campeonato questionam-se Vossas Senhorias como é que eu comia. Com os pauzinhos ou com faca e garfo. Desde o primeiro dia que passei a comer com pauzinhos (que utilizo nas refeições diárias desde 2005), embora o mais complicado não fosse comer dessa forma, mas sim ter uma refeição sem prato raso onde se coloca a comida, tirada com uma colher de servir, maior. Na China (e nas refeições de grupo em que participei), tínhamos a mesa redonda e outra mais pequena por cima da principal, que roda com as iguarias escolhidas. Retiramos os produtos da travessa com os nossos próprios pauzinhos, tendo como suporte um prato de sobremesa. Que desassossego! Actualmente consigo retirar até ao último bago de arroz do prato, tal é a destreza que o treino contínuo me proporcionou. À data conseguia pôr toda a gente a rir e a fazer comentários pouco abonatórios entre dentes.  

Já tinha começado a aventura dos pauzinhos nos restaurantes desde que tinha começado a comer na China. Ora umas vezes com mais sucesso quando era o caso de comida pouco lisa, mas o caso mudou de figura quando fui buscar um ovo de codorniz ao prato, que escorregava por tudo quanto era sitio. Burro. Não me lembrei que os pauzinhos também espetam.

Descobri que a cozinha chinesa é bastante boa, diria mesmo muitíssimo boa. Tem uma grande variedade de vegetais, peixe, carne, etc. Tenho comido muito bem e barato. Os chineses são mestres cozinheiros fabulosos que, para além de cozinharem bem, fazem-no na hora e com uma destreza e habilidade fenomenais.

Depois de percorrida a distância entre Ningbo e Cixi, encontrei-me com a Joanna Zhu, onde comecei a visita às fábricas de móveis de estilo tradicional chinês. Lacados, envernizados rústicos, encerados rústicos, etc. Um mundo com muito mobiliário doméstico, um dos motivos que me tinha feito apanhar o avião rumo à China. Fomos a algumas fábricas e armazéns. Os móveis chineses tinham um custo bastante acessível, muito barato. A dificuldade está na quantidade, na qualidade, na necessidade de ter “stock”, no tempo com o dinheiro empatado, custos de viagem, em suma, logística para gerir tudo isto.

Outro pormenor importante é o facto das nossas distâncias não terem nada a ver com as deles. Para nós ir de Lisboa a Leiria são 130 km, 1 horita mais ou menos. Na China, para fazermos o mesmo percurso em distâncias equivalentes temos que pensar no estado do piso da estrada, na ausência de cruzamentos desnivelados, no trânsito caótico, nos camiões que não saem da faixa da esquerda, das bicicletas de 3 rodas que estorvam que se fartam, nos tractores a 30 à hora e nos milhões de bicicletas que passam nas passadeiras, onde ninguém lhes cede passagem, mas que na hora da verdade são tantos que não dá para passar por cima. A máxima para andar na estrada é passar depressa, primeiro que o outro, mas sem causar acidentes. É completamente proibido tocar no que quer que seja. Evitam o acidente a todo o custo, à custa da buzina e de uma condução que não alcança o que está só imediatamente à sua frente, lêem o trânsito duma forma diferente. Ou seja, este mesmo percurso demorou 2 a 3 horas.

 

Continua…

 

 

 


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