10º Capítulo
Guangzhou, Sexta-feira, 18 de março de
2005
Já chega de Ningbo. Tenho voo marcado para Guangzhou
esta manhã. Esta cidade alberga a famosíssima Canton Fair, local que também
albergará a feira de mobiliário que me trouxe a Guangzhou. O voo está previsto para
as 10.45 da manhã e quero lá estar uma hora e meia antes. Levanto-me às seis e
meia, tomo o pequeno-almoço às sete e meia. Antes tenho que teclar uns
quantos caracteres no portátil que me acompanha e dar asas aos meus devaneios
mentais que me vão assolando a ideia. O isolamento no Oriente está-me a dar
cabo dos neurónios. A falta de comunicação em português e a
ausência de pessoas que me são próximas, faz mossa.
Táxi para o aeroporto e voo 5 estrelas. Para não
variar, a raça dos taxistas é igual aos primeiros em que andei, em Shenzhen.
Completamente passados. Cheguei a pensar que, pelo facto de ser ocidental,
querem dar uma de bons condutores e exibirem-se ao estrangeiro. Parecem ter
sido escolhidos a dedo.
A companhia de aviação que efetuou o transporte é uma
das melhores em que alguma vez andei. China Eastern, salvo erro. Avião novinho
em folha, hospedeiras novinhas em folha, comida boa qb, confortável, rápido,
eficiente, sem objecções, sem atrasos. Cheirava tudo a novo.
Ningbo tem graves problemas de poluição como em quase
todas as áreas urbanas chinesas. Salta à vista a forma desordenada e caótica
como foi crescendo, sem o mínimo respeito pela natureza e pelos seres humanos
que aqui (sobre) vivem. Na esperança de “tapar o sol com a peneira”, o governo
chinês lá vai promovendo operações de cosmética nos principais hotéis das
cidades, sitio privilegiado de contacto com os ocidentais que lá se deslocam,
na esperança de dar uma imagem positiva desta nova China capitalista que
tresanda a dinheiro onde todos o querem fazer muito e depressa.
Chegado são e salvo, já com hospedagem marcada pela
Joanna Zhu, fiz o check-in num excelente hotel de quatro estrelas numa zona
central de Guangzhou, ou Cantão, capital de Guangdong, uma das províncias mais
a sul do território chinês, contíguo a Hong-Kong.
GuangDong Hotel, nem
mais nem menos. Onde lavar três camisas, três polos, seis pares de meias, seis
cuecas e 2 pares de calças custaram a módica quantia de 75 RMB, ou seja, 7,5 €.
Tudo devidamente embalado , dobrado e engomado individualmente. Vale a pena ir
à China só pela lavagem da roupa. Top.
Após saber que a China é um país onde se pode andar na
maior parte dos sítios sem problemas de assaltos ou de qualquer outro tipo de
incómodo, aventurei-me por ruas que quase tenho a certeza nunca terem sido
visitadas por ocidentais, por estarem em lugares tão recônditos e inacessíveis.
Frequentemente provocava expressões de espanto por parte dos idosos e crianças
que encaravam comigo de surpresa. “Que raio de bicho é este ?” pareciam dizer
as faces interrogadas que a idade e a inocência não tinham habilidade para
disfarçar. Frequentemente reparei em crianças que, ao encarar comigo,
procuravam protecção junto das mães, num misto de medo e indisfarçável
interrogação. O desconhecido mete medo, na China ou em qualquer parte do mundo.
Os mercados de carne crua não se lá pode lá entrar,
tal é o cheiro pestilento que emanam. O mais próximo que consegui chegar foi á
porta, retrocedendo de imediato. Sendo o olfato o meu sentido mais apurado,
qualquer cheiro mais forte causa-me dores nas fossas nasais. Nos mercados que
visitei, evitei sempre a zona da carne, precisamente porque me causava dor
cheirar tais fortíssimos odores a carne. Está impregnado nos locais e é
demasiado “pujante”. Creio ter entendido que na china existe também um setor de
produtos secos muito forte, onde peixe, insectos, carne e toda uma panóplia de
comida seca é vendida a peso, com os cartuxos de papel pardo que antigamente se
usavam nas mercearias. Estão a granel em sacos de ráfia e serapilheira expostos
no chão e em prateleiras nas lojas da especialidade. Existem em todos
os bairros e em todas as ruas.
Continua…
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