2º Capítulo
Shenzhen - China, Segunda-feira, 14 de março de 2005
(Continuação)
Mesmo com todas estas contrariedades
estava, finalmente, instalado.
Com um jet-lag de quase dez horas e com
mais de 24 horas de andanças em viagem, apetecia-me tudo menos sair, mas estava
com a pica toda e queria desbravar terreno em Shenzhen.
No hotel onde desaguei, havia também
certos pormenores como por exemplo a escada de serviço que parecia nunca ter
visto lixívia, bem como o chão da cozinha, da casa de banho, os acabamentos não
existem em nada, desde que sirva… está bom. O esquentador no duche, a 50
cm do utilizador do chuveiro, foi algo inédito para esta cabecinha
pensadora. Para dificultar a coisa, conseguir que este trabalhasse foi uma
autêntica epopeia técnica, pois só após 10 minutos de atenta pesquisa lá
descortinei como é que este se mantinha aceso por mais de 10 segundos, a
proporcionar uma água ora a ferver, ora a roçar o frio. Chinesices.
Após um duche reconfortante fui dar uma
volta pelas redondezas e ao sair do quarto tomei o elevador que me tinha levado
ao andar, pensava eu. Carreguei no que me pareceu ser a saída. Assim que as
portas do elevador se abriram achei estranho o visual do hall. Quando dei por
mim estava na receção duma esquadra de polícia, desta vez fardada. Assim que a
sentinela me viu, deslocou-se cordialmente para mim e, estendendo o braço
acompanhou-me na direcção do outro elevador, este com paragem no sitio certo,
B1, aqui percebi que o bagageiro me tinha tentado dizer qualquer coisa “One”
quando me tinha levado a mala ao quarto.
Após todas as tropelias, comer qualquer
coisa e … cortar o cabelo.
Cortar o cabelo é das coisas mais
fascinantes e baratas que se pode ter na China (30 rmb, ou seja 3 euros, com
direito a massagem do couro cabeludo, massagem nas costas, no pescoço, nas
orelhas, nos braços, na coluna, nas mãos, tudo isto ao longo de mais de uma
hora. O que é facto é que saí de lá novinho em folha, depois de ter posto
todas as massagistas e barbeiros a rir que nem perdidos durante todo o
tempo que lá estive.
Para completar o ramalhete só faltavam
os pés. Não é tarde nem é cedo. Entre dezenas de oficinas de automóveis,
dezenas de vendedores de bebidas alcoólicas, volumes de tabaco, oficinas
de mármore e lojas de tudo e mais alguma coisa, lá desencantei uma
casa tipo templo com pessoas viradas para uma imagem na parede e com os pés em
cima de uma maquineta que vibrava que se fartava, ao mesmo tempo que seguram
com as duas mãos dois terminais metálicos ligados por fios à tal “ maquineta
infernal “. Foi só olhar duas vezes e já o dono do “estaminé” me convidava a
sentar num banco de plástico azul, que me pareceu aguentar-se intacto com a
ajuda dos deuses retratados na parede, apesar dos meus 130 kg (à data
tinha este peso).
Depois de preparado para a experiência,
iniciou-se uma estranha e inédita sensação. Pareciam agulhas a espetarem-se na
sola dos pés. O que é facto é que bastaram 5 minutos para “flutuar”, sensação
que me ficou quando pousei os ditos cujos descalços no tapete coçado da sala
virada para a rua. Resta dizer que o proprietário só falava chinês, bem como
todos os outros ocupantes do espaço terapêutico e riram que se fartaram quando
me viram naqueles amanhos. Ocidental, anafadinho, pouco à-vontade e novo no
local a experimental algo. Eis os ingredientes necessários para pôr chineses a
rir. Depois da missão cumprida, levantei-me e fui com a mão ao bolso para pagar
o que fosse, ao qual o gerente da casa me agradeceu “Tak yu, tak yu”, pelo que
percebi que não queria que lhe pagasse, indicando-me no tapete a palavra
“Welcome”.
Lá fui à minha vida, comendo uma peça de
fruta aqui outra ali e com pouca fome lá entrei num “fast-food” desconhecido e
comi uma treta qualquer que sabia bem e não foi caro, diria mesmo barato.
Curiosa forma como a mímica não é
exatamente igual em Portugal e na China. Junto de uma banca de rua
que vendia fruta, pedi uma maçã com um gesto que em Portugal seria
compreendido. Com o dedo indicador apontei para a maçã e, de seguida, levantei
o mesmo, ficando na vertical. No meu entender dava a indicação de se tratar de
uma unidade. A senhora entendeu este gesto como eu estando a apontar para
o céu e seguiu a indicação, olhando para cima e de seguida
olhou-me novamente com ar interrogador e desconcertado.
Também curiosa é a forma como se
implantou o KFC- Kentucky Fried Chicken, às dezenas em cada cidade, sendo um
sucesso de vendas na China com casas sempre cheias. Foi-me dito, posteriormente,
que é necessário um investimento de 1 milhão de dólares em cada novo
restaurante franchisado. Sendo a China um grande consumidor de carne de aves, o
KFC está como frango na capoeira. É só faturar.
Já na rua, procurei algum sítio onde
pudesse beber um cafezinho para compor o ramalhete. Não foi fácil mas entrei em
algo parecido com um bar ocidental e perguntei “coffee”? Resposta:
Yes. Espetáculo. Até têm café e tudo!!! Maravilha. Deitei foguetes antes
da festa. Levei com um abatanado clarinho, tipo café americano em copo de
cartão. Foi melhor do que nada. Havia já mais de 24 horas que o café não fazia
parte da minha dieta.
Regressei ao Master Club, o hotel .
O cheiro, a “bezuntice”, o esquentador e
muitas mais coisas não me tiraram o sono, nem mesmo o buzinar continuo dos
chineses, sempre, sempre, sempre, que desta vez até serviu de canção de
embalar. Nem a cama riza como cornos me demoveu da soneca.
Tiro e queda.
Zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz…………….
Continua…
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